03/04/2016

Caminho de Santiago de Compostela

Se sentes que algo no seu interior deve mudar, a melhor forma é tirar férias e fazer o caminho.
O primeiro é planejar quantos quilômetros pode fazer ao dia, comento que a diário se faz 10.000 passos. Então um bom plano deve ser uns 20kms por dia. Com este dado, planeje em que cidade e o local para dormir. A partir dai é comprar as passagens.
Conselho, faça o plano de acordo com seus valores. Seguir os limites de outro qualquer lhe causará frustação, raiva e muita dor. Foi o que me passou. Havia decidido que com chuva saltaria algumas etapas do caminho, algo que não ocorreu. Foi logo no primeiro dia, não só sofri física e emocionalmente como obtive uma série de contracturas no ombro e pescoço.
1o. dia Ponferrada à Vila Franca de Bierzo. A paisagem maravilhosa, um bom albergue, excelente café da manhã, mas ao por o pé na rua, chuva... Andei os 28km triste, com raiva e chorando.
Por sorte dormimos em um alberque, "La Piedra" os donos muito atenciosos e prestativos, ai pude fazer meus alongamentos e algumas posições de ioga para um equilibrio. Além do que duas coisas magnificas passaram: Primeiro ai nos visitou uma massagista e me tirou a maior parte das contracturas do pescoço, nunca pensei que em apenas um dia, causaria tanto estrago. Segundo conhecemos dois portugueses que por obra do destino fomos juntos até Santiago.
Pensei várias vezes em que merda de viagem havia me metido e que não alcançaria mudar nada em meu interior com aquele caminho, mas como devemos ir até o final, prossegui.
2o. dia foram 33km até o Cebreiro, uma subida mortal para qualquer humano normal de escritório. Pensa que escapei da chuva, não, choveu. Neste local pude rezar em uma igreja pequena mas aconchegante. Estávamos a 1 grau de temperatura, em havaianas devido as bolhas no pé. Que frio.
3o. dia foram 32km até o Monastério de Samos, interessante experiencia dado que ali só havia 10 monges, nem preciso dizer que as pernas já não respondiam corretamente às ordens do cérebro.
Gostozo neste local, perdido nas entranhas do mundo, havia num bar uma garçonete brasileira, que alegria, foi um carinho profundo poder dar uma abraço em alguém da nossa terra: e que café da manhã ela nos preparou, é a nossa cultura, nosso jeitinho amoroso de ser que está no sangue.
4o. dia foi o que menos andamos, 27km, já adianto, não cheguei ao objetivo, a 1km minhas pernas já não podiam mais e ali mesmo fiquei. Por sorte era a cidade de Morgate e pudemos alugar um quarto com ducha. Foi a Glória. Neste dia pude voltar a fazer algo de alongamento e ioga. Por Deus!!!
A partir deste ponto, entendemos que hoje em dia, já se pode comprar alguns "milagres". O que muita gente fazia desde o primeiro dia. Conto a você leitor, víamos gente acordar mais tarde, nos andávamos como escravos carregados com nosso fardo e ao chegar no albergue seguinte, os que ficaram dormindo, já estavam alojados no albergue, incluso de banho tomado... Haviam dois tipos de milagres: o das mochilas, que por apenas 3 euros uma transportadora levava sua mochila até o próximo albergue. E o milagre mais popular, que após andar 15 ou 20 km o taxi estava lhe esperando para levar em carro até o próximo albergue.
Chegar em Santiago de Compostela é gratificante. Além da excelente hospedagem, existem inúmeros locais para se comer. Sim, chovia.
Uma visita a igreja, a missa de ressurreição e o sermão de morte e vida. Tudo isso junto, lhe toca o coração. Algo de mim havia morrido naquele caminho de chuva, charcos e dor. Entretanto algo brotava e que eu não percebia ao certo, porque ainda estava envolvida por aquela nuvem negra de raiva, sofrimento e dúvidas.
Somente ao entrar em casa, receber o abraço de meu filho, dormir em minha cama macia e quentinha, fui percebendo o verdadeiro sentimento.
E foi realmente ao chegar e estar algumas horas no escritório, depois de vários incidentes, que percebi: sentia e percebia perfeitamente o odio, a inveja e o amor em cada uma das pessoas que me rodeava. Aprendi que somos donos de nosso destino e podemos escolher de que lado queremos estar, e escolhi só dar valor e estar do lado do AMOR. Além de ter recebido uma benção que levou a mudar a cor da minha ameba. VERDE SAUDE, agradeço aos que me acompanharam e deram suporte nos momentos mais duros (seja por WhatsApp, por uma xícara de café, por um abraço, por um olhar carinhoso) meus familiares e amigos.
Próxima etapa Caminho Inca.

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